Ensino
Salas de aula novamente ocupadas
Mais de 70 escolas municipais retornaram ao presencial; outras quatro voltam nos próximos dias
Carlos Queiroz -
Entrada de escolas cheias, jovens reunidos conversando em roda, aqueles minutos de “bagunça” antes de bater o sinal para as aulas começarem. Seria uma rotina normal e saudável no ambiente escolar, se não fosse a pandemia da Covid-19, que ainda exige o uso de máscara, o distanciamento social e, como consequência, a não formação de aglomerações - tanto em locais abertos quanto fechados.
Entretanto, o que um dia foi cenário de um retorno das aulas em “tempos normais”, foi visto ontem por quem esteve ou passava pelo Colégio Municipal Pelotense, uma das mais de 70 escolas que retornaram obrigatoriamente com suas atividades presenciais nesta quinta-feira. A preocupação da direção é em relação a possíveis contágios com este contato fora da escola. “Para um aluno é muito difícil dizer ‘não aglomera’. Nós não temos uma pessoa para cada aluno. Tu fala, mas, né?!”, comenta a diretora-geral, Marta Inchaupse.
“Tu imagina, no turno da tarde que são mais de mil alunos, tu bota metade, é quase uma escola pequena. Aí tu tenta separar eles por portões, criar uma logística, mas é humanamente impossível dar conta porque eles já chegam aglomerados. E, claro, hoje é nosso primeiro dia, então a gente está adaptando para ver se funciona ou não”, acrescenta a vice-diretora Patrícia Farias.
Patrícia também fala que, apesar de não ter alternativas - por ser uma determinação do governo do Estado, que a Secretaria Municipal de Educação e Desporto (Smed) precisou acatar -, os pais seguem pressionando contra o retorno. “Os pais nos pressionaram muito e continuam pressionando porque, querendo ou não, as famílias estavam organizadas para um sistema que se arrastou até agora”, analisa.
“Algumas crianças foram morar com os avós, porque os pais se apertaram financeiramente então cortaram a van. Os ônibus também, está uma situação complicada. Em alguns horários os pais se sentem inseguros e tudo isso eles [os pais] trouxeram como problemas para a escola resolver, mas a escola não tem o que fazer.
Ela tem que estar aberta e cumprir com o que a Secretaria encaminhou”, diz a vice-diretora.
Durante essa primeira semana, devem frequentar as salas de aulas aqueles alunos que já estavam no ensino híbrido, ficando para a segunda semana do revezamento os estudantes que estavam no remoto. Iniciado no dia 15 de março, o ano letivo será encerrado em 21 de dezembro.
De acordo com a secretária de Educação, Adriane Silveira, os primeiros relatos das equipes diretivas das escolas municipais informaram um retorno tranquilo, com “problemas pontuais em algumas escolas”. “Precisamos fazer essa construção deste retorno seguro, que é um processo educativo para todos”, afirma.
“Esse retorno das atividades de ensino presencial, que é obrigatório, deve ser organizado como uma ação de sensibilização das famílias e dos alunos, como uma forma de acolhida, e de forma nenhuma com medidas punitivas. Queremos que esse movimento de retorno dos alunos seja exatamente para reforçar ações de inclusão na escola”, explica Adriane, em relação a possíveis receios de pais e responsáveis.
Problemas estruturais em evidência
Previsto para o último dia 8, pelo governo estadual, o retorno obrigatório das aulas presenciais evidencia os problemas estruturais das escolas, principalmente da rede pública. Nas municipais, das 93, apenas quatro puderam voltar na data prevista e mais de 80 devem permanecer em ensino híbrido para ser possível respeitar o distanciamento de um metro entre classes nas salas de aula. Para isso, cada turma deve ser dividida em dois grupos, sendo decidido pelas instituições se o revezamento será por dia ou por semana, e aquele aluno que estiver remotamente terá atividades de reforço, passadas pelos professores, no lugar das aulas online, não mais disponibilizadas.
Do total, cinco escolas de Ensino Fundamental (Emefs) devem retornar sem revezamento e em outras 11 Emefs algumas turmas retornam sem escalonamento e outras com ensino híbrido. Cinco mantêm aulas remotas por estarem em obras. Além disso, quatro escolas devem retornar apenas na próxima semana. A Smed afirma que destas, três educandários não conseguiram cumprir o programado e retornar na data limite. São eles:
- Piratinino de Almeida: o retorno não foi possível devido à não conclusão da nova demarcação dos espaços. Retorna na próxima terça-feira;
- Mariana Eufrásia: fechada por problemas estruturais pela Vigilância Sanitária, foi liberada para início do ensino presencial no dia 17;
- João Guimarães Rosa: apresentou dificuldade de acesso pelo transporte coletivo. Reunião com a direção deve ocorrer hoje;
- Nossa Senhora de Lourdes: retorno previsto para o dia 16, a pedido da comunidade escolar.
Transporte público deve acompanhar retorno
O secretário de Transporte e Trânsito, Flavio Al Alam, destaca que, desde setembro, diversos horários vêm sendo incluídos e já retornaram às ruas de Pelotas. “O que ainda não voltou, mas estamos trabalhando, são horários mais tardios, após as 22h30min”, avisa.
“Desde agosto estamos retornando algumas linhas ao normal, como por exemplo Getúlio Vargas e Pestano. Eram juntas, hoje praticamente [estão] separadas. E separar algumas linhas não significa melhora, pois teremos que atender as duas linhas com horários integrais, o que se torna mais difícil. Em linhas juntas temos frequência muito maior de horários”, defende Al Alam, que também informa que mais de 150 horários já foram acrescentados de setembro até o início de novembro.
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